terça-feira, 13 de julho de 2010

Lógica Bomberiana... Em laranja!

O taxista abriu a porta para ela, sorrindo. Ela observou-o, surpresa, satisfeita com a pequena gentileza. Pensou, rapidamente, que podia acostumar-se com aquilo. Imaginou-se em uma liteira, sendo carregada por morcegos gigantes, de asas longas e finas, como meias de seda super esticadas. Eventualmente, eles transformar-se-iam em homens, jovens bonitos como aquele um daqueles livros de menininha que ela gostava de ler. Mas jovens não voam, então não poderiam levar a liteira para o alto, para que ela visse Evangeline. Hum, talvez ficassem melhor como morcegos. Sim.
Caminhou pela rodoviária, os pés muito automáticos, sem pensamentos que os comandassem. Entrou no sanitário com a menininha de vestido na porta. Aquela menininha era tão out, né? Quem hoje em dia usava um vestidinho rodado, em formato de triângulo, daquele jeito? Era mais uma convenção e ela as odiava. Ainda se fosse o triângulo das bermudas, quem sabe. Mas era de saia. Super sem graça. Super sem mistério. Super não desaparecia com as pessoas.
Fez xixi e sentiu-se super viva. Era alguém de verdade porque, afinal, só pessoas de verdade poderiam fazer xixi na rodoviária. Personagens fariam xixi em lugares mais limpinhos. Ou não. Whatever. Ela não era uma personagem e pronto. Lavou as mãos e olhou-se no espelho. Estava vermelha, com as bochechas muito rosadas. Como balões. Adorava balões. Eram coloridos e voavam alto no céu. Talvez fosse mais saudável ter balões do que uma liteira erguida por morcegos. Afinal, balões não transmitiam raiva. No máximo você poderia ter raiva de um pônei em um balão, porque ele não tem polegares opositores e não deveria estar ali. Pelo menos era o que uma amiga estranha havia dito uma vez. Mas ainda assim, balões era legais. Quase tão legais quanto comer pudins. Mas pudins eram doces e macios. E molengas. E você podia dar nome a um pudim. Como Bob. Pudim Bob. E fingir que ele era uma geléia vinda de outro planeta. Mas balões não. Eles não tinham cara de nome. Não. Eram só balões.
Saiu do banheiro apressada, os pés novamente movendo-se quase sozinhos, sem muitas ordens a seguir. Caminhou até as plataformas de ônibus, esperando. Um policial fardado aproximou-se e ela observou-o. Quis ser uma delegada com chapéu e estrela. Não seria muito mais bonito? Um chapéu protegeria do sol e seria elegante. A estrela poderia chamar-se Evangeline (e então ela não precisaria de morcegos ou balões para vê-la). E, melhor de tudo, ela iria sentir-se saindo de uma caixa de brinquedos, com Buzz Ligthyear, ao infinito e além. O que tinha além do infinito? Um arco-íris com ouro? Talvez. Por isso as pessoas não encontravam, nunca, o tal do pote. Ele sempre estava além.
O ônibus despontou, fazendo a curva e parando frente ao número 9. Plataforma 9? Poderia ser 9 e 3/4, não? Não, hoje não. Hoje não.