sábado, 27 de agosto de 2011

Qual o seu maior sonho?

 A primeira vez que descobri que conseguia controlar alguns dos meus sonhos, desejei dormir para sempre. De olhos fechados tinha tudo o que gostaria de ter, meus medos e tristezas podiam ser colocados em uma caixa com um nome pomposo que seria colocada nas mais profundas cavernas do meu universo paralelo, e lá ficaria protegida por todos os poderes que minha imaginação conseguisse criar. O problema é que a gente sempre acorda. Não existe sonho que dure para sempre, e o mesmo vale para a vida real. Saí perguntando para as pessoas sobre o maior sonho delas, e várias me deram a mesma resposta: "por um bom tempo foi passar no vestibular... agora não sei mais."
 A graça de estar acordada, no entanto, é que você corre o risco dos seus sonhos serem realizados. Melhor do que isso, pode-se criar os riscos, se é que você me entende. E talvez você não seja tão poderoso, bem resovido ou protagonista do mundo quanto poderia ser dormindo, mas certamente haverá pessoas reais para reconhecer você por você mesmo; o que faz a falta de controle e de magia até valer a pena. Você pode sonhar em ganhar o Oscar de melhor filme e melhor direção e lutar para que isso aconteça. Afinal, o maior prazer de ganhar está em se sentir recompensado pelo que fez. O momento em si não é nada.
 E agora que você teve tempo para pensar: e aí?, qual o seu maior sonho? Eu deveria ter pensado nisso antes de sair perguntando, pois também não sabia responder... Engraçado que as pessoas que acreditam que seus sonhos são bobos, são justamente aquelas que tem a resposta, que sabem exatamente o que sonhar e que tem mais chances de conseguir. Não é bobo querer arranjar uma namorada, querer se realizar profissionalmente, sendo a melhor naquilo que escolher, querer ao menos saber o que escolher, terminar a faculdade de engenharia civil e construir a própria casa. Eu, na verdade, acho lindo. O velho clichê 'plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho' é um fórmula resumida de felicidade. Bobo é deixar a vida passar sem sonhar.
 Algumas vezes temos aquele sonho do momento, voltar a ser como antes (psicologicamente falando), outras temos um planejamento completo de vida que inclue amar e ser amado, trabalhar no que gosta, ganhar dinheiro e viajar pelo mundo. American fucking way of life. Não deixa de ser um plano. Tirando a pessoa que me disse que sonha em ter um dinossauro, acho que tudo pode se realizar, até mesmo abrir uma escola ou casa ou afins para crianças de rua. E a esperança já basta para compensar todas as complicações que estar acordado nos traz.
"…depois de eu ter descoberto como todas as coisas que temos que fazer somem com o nosso tempo, o meu maior sonho é ter tempo para poder fazer as coisas que gosto". - Denis
 E se você achou a pergunta difícil ou até agora não sabe responder, fica a reflexão que o Pooh ouviu por aí: "o ser humano é um animal que, se lhe for permitido escolher 99 de 100 caminhos, passará o resto de sua vida imaginando como seria se tivesse escolhido o outro"

PS: tudo que está grifado foi de fato dito por algum dos meus amigos
PPS: meu sonho é ter uma casa com uma árvore com flores amarelas no quintal e um cachorro para morrer do meu lado.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Os conhecidos que não me conhecem...

Viu-os, com olhos grandes, pretos e redondos, faiscantes com a vida que despertava enraivecida dentro dela. Respirou, pensando em explicar-se mais uma vez. Desistiu. Estava cansada das pessoas que achavam que a conheciam. Como poderiam, se nem ela havia conseguido tal proeza? Inspirou com a profundeza de seus sentimentos, suas reflexões covardes que apareciam e corriam dela antes de fazerem-se claras.
Não, ela não gostava mais daquilo. Já participara de muitas coisas, conhecera muita gente, fizera amigos e dera muitas risadas em outros momentos, que ela amava com todas as forças, mas que já não eram seu presente. Não queria dormir no chão ou não dormir, tinha preguiça de pessoas histéricas, não dava nem um décimo da importância que todas aquelas pessoas de almas jovens davam a uma competição, qualquer que fosse. Não combinava mais com aquelas coisas e tinha preguiça. Tinha inveja, também, daqueles que amavam todas aquelas coisas com simplicidade e emoção, cabível aos inocentes. Invejava sua devoção, seu aproveitamento simplório daqueles momentos de vida, sua felicidade fácil e livre. Era muito mais complicada que eles e não se orgulhava disso.
Mas essa era ela. Ela. E sim, seus olhos pretos e sua cara de eventual mau humor não precisavam que as pessoas lhe dissessem "você vai se arrepender!". Como, por Deus, poderiam saber? Alguém ali morava em seu coração, visitava suas entranhas, via sua alma? Alguém ali arrepiava-se com livros bons, chorava em desenhos de urso, morria de saudades de um gato branco e decrépito? Alguém ali lembrava com muito muito muito carinho de uma tarde de autógrafos em um tempo próximo, que fora uma das melhores tardes de sua vida? Alguém adorava cheiro de gasolina, de chuva, de cachorro quando toma banho, de casa limpa, de casa de mãe? Alguém ficava com os olhos estalados quando a chuva caía lá fora, hipnotizada pela força e grandeza daquela água mágica, vinda do além? Alguém sim. Ela. Ela, em suas esquisitices únicas, suas multi-caras, seus humores mutantes. Ela, que não se entendia e não se conhecia tão bem quanto gostaria, mas sabia-se única e desigual, como cada uma das pessoinhas sobre a Terra.
Sorriu, quando alguém, muito velho, ou que se sentia muito velho, alegou que ela ainda era nova e que um dia ia sentir saudades de poder ir àquelas competições, e teria vontade, mas não poderia. Respirou, tentando imaginar o que aquele cara sabia da vida, de sua vida. Sorriu, satisfeita em apenas sorrir.

domingo, 7 de agosto de 2011

Os pacientes somos nozes

 Por um breve momento acreditei seriamente que aquele cara estava usando a filha como desculpa para soltar pum no hospital. Sozinho, com o bebê no colo, perto da janela, longe das pessoas, emitindo sons muito semelhantes ao incômodo supracitado. Aquela velha história de que onde tem crianças e cachorros adulto nunca peida. Meu comentário mental caiu na máxima americana "get a bathroom" ou algo assim. Esse é o tipo de gente que encontro no segundo andar.
 No primeiro andar todos os pacientes são alunos e funcionários do hospital, que esperam pacientemente pelo elevador cheio e lento para chegarem onde precisam. Eu vou de escada, subir lentamente e chegar antes que todos eles em qualquer andar. Mas sempre que vejo uma pessoa saindo da porta do terceiro andar fico me perguntando se é alguém da psiquiatria fugindo. Afinal, deve haver um motivo para esse ser o único andar cuja porta fica sempre fechada.
 O quarto andar ainda não existe para mim, mas o quinto é meu maior destino. Foi lá que me deparei com aquela pessoa que toma 4 garrafas de cachaça por dia. No resto do dia ele faz xixi, porque, né?, vamos combinar: quem é que bebe sequer 4 garrafas de água por dia?!
 E foi me fazendo essa pergunta e olhando para fora que encontrei uma pessoa no telhado. Com mochila nas costas e tal, tinha cara de fugitivo. Não satisfeito em me surpreender, o mundo decidiu me mostras mais uma pessoa em cima do telhado, indo atrás da primeira. Um comparsa, por certo. Depois outra e depois outra. Elaborei 3 hipóteses perfeitamente plausíveis:
1. tem uma galerinha grande e preciosa que não curte hospital e tá fugindo dos médicos
2. algumas pessoas tem muita preguiça de dar a volta nos estabelecimentos e criaram um caminho alternativo que consiste em passar por cima de qualquer obstáculo
3. talvez eu devesse ficar mais tempo no terceiro andar...