quinta-feira, 10 de junho de 2010

Procura-se pessoa má

 Uma coisa irritante é gente irritante. Uma coisa séria é trabalho. Uma coisa irritante e séria é quando pessoas irritantes atrapalham seu trabalho. Não, você não deveria ir para sua casa fazer seja lá o que você quer fazer enquanto tem trabalho para fazer aqui. Sim, pode até ser que a gente dê conta sem você, mas é uma putafaltadesacanagem eu não poder ir para casa também. Ou você acha que eu não queria tomar banho, trocar de roupa, pentear o cabelo, comer? Não, na verdade eu curto mesmo esse visual acabado com 3 camadas de comida na minha calça jeans e nenhuma no meu estômago.
 Mas eu nem ia falar isso. Digo, hoje vc não tem aula de manhã e tem uma prova a tarde. O que fazer? Estudar o quanto puder e depois dormir até descansar. Você conseguiu tirar duas notas vermelhas nas duas únicas provas que já fez de outra matéria. O que fazer? Comparecer à revisão de prova que sua professora marcou. Aviso que: se esses dois eventos acontecem no mesmo dia, seu dia não começou bem. Você acordou cedo tendo ido dormir tarde e nem vai poder revisar a matéria da prova atual porque já foi incapaz de fazer isso na anterior.  Um beijo aos que sofrem de faculdade!
 Aí você ganha uns pontos extras, vai bem na prova, parte mais feliz para preparar a sua tão planejada festa junina e alguém, na montagem das barracas, levanta um cano de metal que consegue jogar seus óculos para longe e se enfiar no seu olho. Me senti prestes a ser um filme: andar desorientadamente em busca dos óculos até ouvir um clec! e lamentar a vida. Mas como eu estava com meu olho doendo e momentaneamente cego sou muito inteligente, fiquei parada até recuperá-los e a tragédia acabou. Um beijo aos que sofrem de olho.
 Aí eu recebi ordens estúpidas (desculpa, mas depois as pessoas se perguntam porque alunos calmos e felizes aparecem com armas na escola e matam os coleguinhas... #desabafo). Aí eu vi gente fazendo nada. Aí eu comecei a ficar na correria, me dá isso, corta aquilo, coloca na panela, derruba, suja, limpa, queimou a luz! Eu teria agradecido se meu trabalho fosse interrompido por isso, mas eu só tive que continuar fazendo comida no escuro. Neste ponto milhares de pessoas e situações já estavam me irritando e eu precisava muito, muito mesmo, de uma pessoa má.
Pessoa má: aquele seu amigo com o qual você pode falar tudo que te irrita, gritar, xingar, desabafar, e ele ainda vai completar seu pensamento e ser igualmente mau sem tentar te mostrar o lado bom das coisas. Às vezes a gente só precisa de alguém pra concordar. Um beijo para quem sofre de ausência de pessoa má.
 Depois de achar minha pessoa má, voltei para minha ilha: uma barraca cercada de gente por todos os lados. Me sentia num zoológico com zumbis famintos tentando atravessar minha jaula. Eu já vi que vc está aí e quer um lanche completo, mas tem outras dezenas de pessoas aqui tbm, então espera! As pessoas só reclamam. Eu não vou fazer lanche pra você, não dá pra ver que estou cortando os pães para que todas as outras pessoas possam fazer lanche para você e outros tantos!? Não, você não pode pagar menos, você não pode comer uma salsicha, você não pode levar as batatas. E você não vai, veja bem, NÃO VAI, pagar direto aqui sendo que todos os outros passaram no caixa.
 Eu sendo séria: um indivíduo perguntou se podia pagar direto na barraca. O Jipe até chegou a dizer que sim, mas eu disse q não. Não pode porque dá problema na hora de fechar as contas, na festa passada isso já aconteceu e errar na mesma coisa de novo seria estupidez nossa. O indivíduo, que passará a ser chamado de Detestável, insistiu. Não, Detestável, não pode, isso dá rolo. Mas ir até o caixa é longe, eu pago mais para você aqui! Não, sinto muito, mas eu não posso. Detestável volta-se para o Jipe: deixa vai? Jipe: ela que manda aqui. Detestável: mas por você não teria problema... Eu: é, mas quem manda aqui sou eu e eu estou falando não.
 Tá bom, isso foi meio desnecessário. Só meio, porque o Detestável era totalmente descenessário e desagradável. Eu expliquei para ele que dinheiro é só no caixa, se não qualquer um pode guardar no bolso e ir embora, que a gente tinha decidido em reunião e tal. Se tem uma coisa q me irrita é quando decidimos coisas em reunião e as pessoas descumprem como se a discussão não tivesse existido. Pior quando elas nem aparecem nas reuniões e querem mudar tudo depois. Só não me irrita mais do que bêbado insistindo em pegar coisa de graça. Se não estiver bêbado então, pior! Se estiver bêbado puxando conversas sem qualquer estrutura lógica, me irrita. Se a festa já acabou e você está lá, impedindo que eu guarde as mesas e cadeiras e limpe o chão e feche as barracas, você me irrita. Arranja uma vida, sério.
 Tudo porque eu ser a pessoa má da minha própria vida me irrita também. E pode parecer que nossa-você-é-a-pessoa-mais-irritada/irritante-do-mundo mas tudo isso é só drama. No fundo é tudo tão passageiro quanto filmes de zumbis: toda hora sai um novo, mas ele acaba rápido. Uma pessoa má é tipo a pipoca, vc precisa dela pra extravasar a sensação de pessoas incrivelmente lentas e feias comendo seu cérebro.
[ e aí que um menino ainda conseguiu chegar para mim e falar que eu passava uma sensação de paz para ele. imagina só se eu não estivesse irritada, eu passaria uma sensação quase de morta, então]

sábado, 5 de junho de 2010

Alice, Andrômeda e o meu gato

Provas, trabalhos, mais provas... Trabalho, relatórios, trabalho... Algum dia estaremos livres? Pois é... Sempre temos muito o que fazer, né? Pelo menos nós, pessoas comuns e simples desse mundão de Deus, que não ganhamos na loteria e não temos mundos e fundos para ficar os dias coçando em uma piscina de hotel 6 estrelas. Aí eu olho meu gato. Todos já reparamos que coisas simples e perfeitas são os animais de estimação. Porque, meus caros, ele não tem mais nada o que fazer. Eles usam a gente, fazendo parecer que nós é que usamos a companhia e o amor deles. Errado. Eles foram inteligentes o suficiente para transferir para nós, otários mór do planeta, megalomaníacos e workaholics, o que ELES tinham que fazer. E ficaram com o tempo livre que nós não temos. E quando teremos? Eu só estou na graduação e td já é um sufoco. Sinto-me culpada em dormir até mais tarde em pleno feriado porque sei que já já terei vinte mil provas de uma vez, com um milhão de coisas para decorar (e esquecer, né, porque nosso cérebro não é afim de ficar guardando um monte de coisas, que nem a gente, que enche armários de bugigangas inúteis, não tem coragem de dar aquelas roupas cafonas e fica sempre esperando a oportunidade de dar pra alguém aquele enfeite brega que nossa avó deu...). E quem Consegue dormir sabendo que tem um zilhão de coisas para decorar e ainda nem começou? Pois é. Aí acordamos as 7hs em um sábado, sob o olhar indignado de nossos gatos (para os felizes e sortudos que gostam de gatos), que voltam a dormir com a despreocupação dos animais domésticos, enquanto nós vamos trabalhar e trabalhar para eles, para nós mesmo, para o mundo surdo, cego e doentio que nos rodeia. Faz sentido?
As vezes eu só queria um pouco de falta de sentido da forma clássica, sabe? Como nos livros da Alice, em que ela está aqui, de repente o aqui não é mais como era, e ela cresce e não consegue ver as próprias mãos, e tem um tribunal de bichos engraçados e uma rainha que quer que cortem as cabeças de todo mundo (mas todos enganam-na e acabam com suas cabeças no lugar). As vezes queria me desligar de todas as coisas palpáveis e que nos amarram, impedem nosso vôo e nos fazem Andrômedas, aguardando quase que com pressa o fim na boca de um monstro. Queria poder me libertar das correntes e voar com um gato com asas, ou sem mesmo, que se desfizesse no ar, deixando um sorriso (ele sorri porque ele pode!). Queria ser o mar, que tudo toca, mas nada abarca. Mas não sou! Sou só eu, com minhas escolhas, muitas vezes quase tão sem sentido quanto as histórias de Alice, e pagando por elas todos os dias. Somos nós, cabeçudos, tomando conta do mundo. Somos Andrômeda, lutando contra as correntes. Somos, mais uma vez, Buzz Ligthyear, ao infinito e além... Somos idiotas! E vamos estudar, que o tempo urge...