quarta-feira, 6 de julho de 2011

Mulan

 Eu não sou desse tipo de gente que recebe recado divino ao nascer. Ninguém me mandou ser gauche na vida, ninguém decretou que eu tava predestinada a ser errada assim, ninguém disse desce e arrasa. Quando nasci não ganhei nem um parabéns, é uma menina. Pessoas normais diriam que isso é pefeitamente ordinário, é apenas um sinal de que eu não posso ser escritora, cantora ou protagonista de um filme e qualquer extravagância minha é fruto de leite batizado. Talvez elas tenham razão... e eu devesse parar de tomar leite antes de dormir.
 Esta noite eu fui a Mulan: um mulher se fingindo de homem para guerrear no lugar do pai. Eu era boa, e eu cantava, pode crer. Desempenhava meu papel com tanta destreza que fui escolhida para matar 3 javalis selvagens (que tentavam destruir nosso acampamento) na companhia do príncipe Cáspian (sim, de Nárnia). Tudo que eu tinha era uma flecha, que muito habilmente acertei numa região nem um pouco fatal do primeiro javali. Sabe aquelas cenas de filme em que o tempo para, as cabeças viram lentamente, e a próxima cena de ação-com-possível-desfecho-da-história acontece? Foi o javali olhando para mim e se preparando para o ataque. Corri para uma sala de aula perguntando quem tinha uma faca. Uma faca, uma faca, por deus, vcs são guerreiros, sejam rápidos!!! E os guerreiros lentamente procurando um faca, até que eu me jogou uma no exato instante necessário para cortar o pescoço do javali.
 O segundo foi morto pelo príncipe Cáspian, em situações que eu nãoo pude presenciar. Talvez ele tenha sonhado com isso... em minha próxima viagem a Nárnia lembrarei de perguntar.
 O terceiro javali era sinistro. Desses que andam em duas patas e tiram uma bazuca da bolsa a tiracolo. Ele mirou a bazuca em nossa direção e atirou no exato instante em que jogamos nossas facas em sua direção. Até agora não sei bem se ele morreu pelo coice da arma ou se a faca acertou. O detalhe importante do sonho é que eu, obviamente, fugi do tiro da bazuca com alguns arranhões, manchas de carvão na cara e um pé quebrado.
 Lentamente fui tomar banho escondida no lago (ninguém podia saber que eu era mulher, lembra?) e depois encontrar meus amigos para tomar sorvete, o que na verdade era uma enganação, pois o real intuito do encontro era ouvir sermão do meu pai por tentar bancar a heroína e ter deixado meus tênis molharem. Tudo isso numa casa incrivelmente grande e bem mobiliada de um japonês que expulsou o filho de casa por este ter tentado guerrear.

 Eu posso não ser nada esplendoroso... mas tenho dificuldades de me ver como ordinária. Esse lance de batizado mexe comigo...